domingo, 4 de março de 2007

Os suspeitos do costume

O que se passou ontem à noite no estádio dos portistas não foi um simples episódio infeliz e localizado. Recapitulemos: o jogo FC Porto – Sporting de Braga foi antecedido por um minuto de silêncio em memória de Manuel Bento, histórico guarda-redes do Benfica e da Selecção Nacional, falecido dois dias antes com 58 anos de idade. Aquele momento, que se pretendia de recolhimento ou de última homenagem ao jogador e ao atleta ímpar, ao homem exemplar, foi boicotado por assobios e cânticos insultuosos ao Sport Lisboa e Benfica vindos de um dos topos do estádio onde se situa a claque “superdragões”.
Os radialistas e os comentadores televisivos apressaram-se a “branquear” a situação, dizendo que, apesar de lamentável, mais de 90% do público presente no estádio tinha homenageado Manuel Bento e censurado com assobios a atitude dos “superdragões”. Esta tese, característica de uma postura refém do politicamente correcto, é não só uma falácia como procura tapar o sol com a peneira, não ir à raiz do problema, para o extirpar, e, pior, varre o lixo para debaixo do tapete.
Se a esmagadora maioria dos espectadores do Porto – Braga se comportaram com decência, não podemos escamotear que durante anos e anos foram cúmplices e complacentes com todas as malfeitorias protagonizadas por aquelas “coisas” que se costumam identificar como “superdragões”.
Este grupo organizado de delinquentes, autênticos criminosos de delito comum, exemplos vivos de uma filosofia de clube, implantada desde que Jorge Nuno Pinto da Costa chegou ao poder, em 1982, e que consagrou raridades “infrahumanas” como o “Macaco” e o “Guarda Abel” e tiradas célebres como “Só quero ver Lisboa a arder” ou “Antes corno que vermelho” (Guarda Abel), não são os únicos culpados. Atrevo-me a dizer que são os menos culpados.
Quando Pinto da Costa chegou ao poder nas Antas, através de um golpe de estado que ia acabando com o seu futebol, fomentando a divisão interna durante o período mais negro da história do clube, a que chamaram de “Verão Quente”, o FC Porto não era o clube simpático que a propaganda “pinto-costista” gosta de veicular. Era um clube que ganhava e perdia campeonatos, mas tinha à sua frente um homem íntegro, Américo de Sá.
Com Pinto da Costa, a estratégia passou a ser a do terror, por um lado, e a das alianças selectivas com os rivais de Lisboa, por outro. No primeiro caso, lembro a célebre manifestação frente ao Governo Civil do Porto, as assembleias gerais incendiárias, geralmente em vésperas de jogos decisivos com o Benfica nas Antas, a criação de uma força de segurança privada, encabeçada pelo Guarda Abel, um agente da PSP do Porto no activo, as atoardas contra Lisboa, o boato lançado antes do decisivo FC Porto – Benfica de 1991 (de que o árbitro Carlos Valente viajava com a equipa do Benfica no mesmo comboio), o balneário encarnado encharcado de lixívia, Jorge de Brito a ter de sair do estádio escondido numa ambulância, etc., etc, etc. No segundo caso, as alianças com Benfica para enfraquecer o Sporting e vice-versa. No caso do Benfica, denuncio aqui e agora Fernando Martins e Manuel Damásio como dois presidentes que se deixaram seduzir pelo canto de sereia de Pinto da Costa, com prejuízos para o Glorioso.
A evolução desta escalada, com episódios cada vez mais rocambolescos e muitos deles atentatórios de um Estado de Direito (o que tem vindo a público, no caso Apito Dourado, é uma ínfima parcela do que foi engendrado nos bastidores do futebol português nestes últimos 20 anos, com prejuízo do próprio futebol e vergonha das suas instituições e do país), tem como ponto incontornável a criação dos superdragões. Não é tempo nem momento para continuar a escrever sobre o rol de tropelias, para usar um termo brando, que sob a alçada de uma instituição com um passado digno foram cometidas.
No caso de ontem no estádio do Dragão o dedo não pode ser só apontado aos “animais” que ocupam aquele topo. O dedo deve ser apontado, principalmente, a quem ocupa os lugares principais na tribuna presidencial, e não me refiro só a Jorge Nuno Pinto da Costa. A cobertura política que aquela claque organizada tem da parte da Direcção do FC Porto, com particular realce para Pinto da Costa e Reinaldo Teles, é algo que já nem na América Latina era possível.
É por isso que aqueles milhares e milhares de sócios e simpatizantes portistas que sentiram vergonha do comportamento dos superdragões e os assobiaram demoradamente devem tê-lo feito com um enorme peso da consciência. Foram eles, e só eles, que apoiaram a criação do “monstro”, com as sucessivas reeleições de Pinto da Costa, com o silêncio cúmplice, complacente, e muitas vezes aquiescente, com que viram e ouviram, durante 20 anos, o seu presidente tornar-se e tornar o clube naquilo que é e naquilo que os superdragões tão bem representam.
Agora, se calhar já é tarde para voltar a trás, devem ter pensado todos os portistas ao saírem cabisbaixos do Dragão na noite de sábado. Se calhar é, ou se calhar alguém lhes pode dar uma última oportunidade. Basta que a Justiça faça o seu dever…

6 comentários:

  1. A cegueira clubistica é um dos fenómenos mais arrepiantes dos tempos modernos.
    Eu até compreendo que preferisse o FCP simpatico e bem comportado que ganhavva um campeonato de vinte em vinte anos.
    Infelizmente para o SLB,o clube do regime fascista e tambem do pos 25 de Abril,a realidade é bem diferente.
    Para a sua postagem ter um minimo de coerencia falta la dizer qualquer coisinha sobre essa associação fascista chamada NO Name Boys.
    Que agridem,destroem,e matam.
    Sim matam !
    Ou ja se esqueceu do Jamor ?
    Concordo genericamente com tudo que diz sobre os superdragoes.
    Sao de facto um bando de criminosos.
    Mas os No Name não lhe ficam a dever nada em selvajaria e delinquência.
    Infelizmente para si,e para muitos como você,há bandidos maus (os outros) e bandidos bons (os seus).
    Essa é ,cruel ironia,a lógica de funcionamento dos superdragoes,dos No Name e seus similares.
    E ao embarcar nesse branqueamento de uns e diabolização de outros, o"Inferno da Luz" torna-se,intelectualmente,igual a eles.

    ResponderEliminar
  2. Meu caro, respeito a sua opinião, mas só lhe dou autoridade para me acusar do que quer que seja quando me vir a defender os No Name Boys, a Juve Leo, os Insane Guys, ou quejandos.

    ResponderEliminar
  3. Caro Inferno da Luz
    Inteiramente de acordo consigo na condenação veemente que faz de um bando de delinquentes chamado superdragoes.
    De facto há muito que deviam estar banidos do futebol
    Eles e quem lhes dá alento.
    A atitude que tomaram durante o minuto de silêncio por Manuel Bento,não sendo infelizmente original,não deixa ainda assim de ser completamente repugnante.
    Ainda ontem em Chaves assisti ,milhares de vitorianos e centenas de flavienses,no mesmo periodo de respeito,fizeram ecoar pelo estádio um imenso aplauso em tributo a um dos grande jogadores portugueses de sempre.
    Nem um assobio se ouviu.
    Apenas palmas.
    Também de acordo com A Espada de D.Afonso quando critica pelos dois pesos e duas medidas.
    Os No Name,as Juve Leo,os Panteras Negras,etc não são melhores.
    Podem é,nalguns casos que não os No Name,terem menor expressão numérica.
    Mas é tudo a mesma banditagem.
    E não vale a pena jogarmos com palavras caro Inferno da Luz.
    Uma coisa é condenar,o que faz em relação aso superdragoes e bem,outra é não defender o que faz em relaçãos aos No Name e mal.
    É a diferença entre o falar e o ficar calado.
    É a diferença entre o indignaçaõ expressa e a tolerãncia oculta.
    É a diferença entre,como diz a espada,os bandidos bons e os bandidos maus.
    Deixe-me dar um exemplo da politica: Chamberlain e Daladier não defendiam Hitler,longe disso,mas tambem nunca o combateram publicamente...até ser tarde.
    Qualquer tolerancia com as claques,em função das cores,só terá o efeito de branquear as associações criminosas em que se tornaram.

    ResponderEliminar
  4. Meu caro amigo Luís Cirilo: também completamente de acordo contigo. Deixa-me que te diga uma coisa - fico comovido com a informação que me dás sobre o comportamento dos adeptos vitorianos ontem em Chaves. Acredita que fico. Apesar de tudo, eles, os vitorianos, não são, nunca foram, adeptos do politicamente correcto. às vezes exageradamente, às vezes com atitudes que merecem reprovação e censura, eles, os vitorianos sempre souberam estar ao lado dos seus, nos momentos bons e maus. Mas isso nunca lhes deformou o carácter, como prova o que me disseste que ontem aconteceu em Chaves (e este meu aplauso também é para os flavienses). Há momentos na vida em que só há uma opção, uma atitude. Não vale a pena vir falar, para branquear os superdragões, noutras claques. Nunca me verás defender nenhuma, sejam No Name Boys, ou quaisquer outros ultras. Esses não gostam de futebol nem dos seus clubes. O que te digo é que os superdragões não são uma simples claque, são "um estado dentro do estado" nmo FC Porto, um poder paralelo, gente que influencia as decisões ao mais alto nível. Isso é que precisa de ser denunciado. Ouviste o Pinto da Costa a pedri desculpa pelo que aconteceu, ou algum outro dirigente do clube? Não sejamos politicamente correctos. Abraço.

    ResponderEliminar
  5. Compreendo a indignação do autor, mas a verdade é que se ele próprio não respeita uma Direcção eleita do FC do Porto como pode querer que uma claque de futebol respeite um ex-jogador do Benfica, que de certeza nunca o viram jogar nem sabem quem é.

    ResponderEliminar
  6. as claques ha muito que deviam estar extintas.são o maior facto de violencia no futebol a seguir aos pinto da costa,veigas e vieiras.
    os superdragoes tem uma historia de delinquencia que ums sad séria ja ha muito que lhes devia ter interdito o acesso ao estadio.especialmente a esse macaco autor de um livro ridiculo mas que ja devia ter dado origem a sua detenção.afinal no livro confessa crimes.é um bocado como a ex alternadeira,ex amante do pinto da costa e actual amiguinha do vieira da pinhao e de gente dessa igualha.agora nao me venham falar de uns e esquecer dos outros.como ja disseram comentadores anteriores nao vejo a diferença entre bandidos azuis e bandidos vermelhos ou verdes.
    sao todos bandidos.que agridem,roubam ,insultam,ferem e matam.
    os no name e os diabos vermelhos sao tao bandidos como os superdragoes.
    todos deviam estar presos.

    ResponderEliminar

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...