terça-feira, 20 de março de 2007

Grande Petit!


Num mundo cada vez mais mediatizado, onde todos, em todas as profissões, se pelam por uns minutinhos de fama, e onde os medíocres se colocam em bicos de pés, a humildade, o apagamento, a reserva, é um bem cada vez mais raro mas, especialmente por isso, a preservar.
Petit é um anti-vedeta do futebol. Sem carisma, sem qualquer tipo de marketing pessoal, faz da sua genuinidade um estilo. À sua maneira, aquele sem jeito para aparecer nas “flash-interviews” colhe simpatias.
Profissional de corpo inteiro, Petit não nasceu em berço de ouro, nem para o futebol. Andou em relvados secundários, até aparecer no Boavista e ser o pilar fundamental do meio-campo, a argamassa que fez do Boavistinha um Boavistão. Com ele, no Bessa foram campeões.
Campeão Petit rumou ao Benfica, o Glorioso, o Grande de Portugal, da Europa, do Mundo. Foi uma transferência pouco mediatizada, nada que se comparasse com as entradas de Ronald Garcia ou George Jardel. Era só o Petit, apesar de campeão nacional, o que quase ninguém era naquele plantel da Luz.
Pegou de estaca, titularíssimo. Petit não se deixou embalar pelos cantos de sereia da noite de Lisboa. Continuou um profissional de corpo inteiro. Metia a cabeça onde outros não metiam o pé, era um raçudo, generoso, abnegado, de nunca virar a cara à luta, a exemplo de outros que construíram a mística da Luz.
Antes de Petit, com o mesmo coração grande na galeria dos nossos heróis apenas Toni, o ruço Artur, Carlos Manuel, Manuel Bento, e poucos mais. Mas eram com esta argamassa que podiam brilhar os artistas da camisola vermelha.
No Benfica, Petit começou a dar mais nas vistas e a ser um alvo predilecto de muitos idiotas: era violento, arruaceiro, mal encarado. Como só as pessoas inteligentes sabem fazer, Petit assobiou para o lado, desprezou a turba, continuou a ser um profissional exemplar e um jogador de topo.
Ontem, na Amadora, Petit deu o exemplo que faltava (se é que faltava) a toda uma classe de jogadores, de dirigentes, de técnicos. E mostrou ao adeptos, a todos os adeptos, como se joga com amor à camisola.
Lesionado no aquecimento, o que fragilizaria talvez irremediavelmente o Benfica, que já não dispunha de Katsouranis, Petit insistiu em jogar. E como jogou!!! Para terminar em beleza, ainda marcou um “golâo”, o terceiro nos últimos três jogos. É por isso que merece reprovação, para não dizer outra coisa bem mais feia, a manchete que o jornal Record fez hoje. Mas a isso Petit responde como sempre respondeu: jogando um grande futebol. Obrigado, Petit!

sábado, 10 de março de 2007

Já chegamos à Madeira?

Pinto da Costa mandou anular um jantar, supostamente em sua homenagem, a decorrer na Madeira, em vésperas do Marítimo – FC do Porto. Segundo consta, para esse jantar já estava confirmada a presença de Alberto João Jardim, o demissionário presidente do Governo Regional da Madeira.
Estas informações têm o seu quê de intrigante. Numa altura em que o processo judicial do “Apito Dourado” parece seguir um percurso que, há alguns meses atrás, se julgava improvável, de que é exemplo máximo, até à data, a ida a julgamento de Valentim Loureiro, José Oliveira e Pinto de Sousa, adensa-se a curiosidade em saber o que vai suceder a Jorge Nuno Pinto da Costa.
Reabertos os processos que impendem sobre eventuais ilegalidades à volta dos jogos FC do Porto – Estrela da Amadora e FC do Porto – Beira-Mar, chamado à justiça para depor o líder dos superdragões, que Carolina Salgado acusa no seu livro ter sido o autor moral das agressões ao ex-vereador da Câmara de Gondomar, Ricardo Bexiga – o que é feito de Jorge Nuno Pinto da Costa?
Ele (e, é justo dizê-lo, José Maria Pedroto), que foi o percursor dos “mind games” tão bem adaptados e utilizados por Mourinho no segredo do balneário e nas “guerras de palavras” antes e depois dos jogos, está remetido a um silêncio ensurdecedor.
Até que aparece esta discreta nota: Pinto da Costa manda cancelar um jantar em sua honra, na Madeira. E mais: até estava prevista a presença de Alberto João Jardim. Sabendo nós que o presidente portista é mestre na arte de seduzir o poder político para alianças espúrias nos momentos de maior aperto, esta de envolver o líder madeirense, a poucas semanas de um sufrágio decisivo para o seu futuro político, não deixa de ter piada.
Não temos Alberto João na conta de um neófito e ingénuo (cruzes, credo!). Nem acreditamos que Jorge Nuno ande distraído. Longe vão os tempos em que eram disputados os lugares na tribuna presidencial das Antas (ou é do Dragão?) “The times they are a-changing”, cantava Bob Dylan.
Os tempos estão a mudar, “et a cause”, estas “chicuelinas” já só enganam os papalvos. Jantar não há, porque não é crível que Jorge Nuno tenha vontade de dizer o que quer que seja nos próximos tempos. E Alberto João tem mais do que fazer, quanto mais não seja preparar uma nova inauguração.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Super morcões

No estádio do FC Porto a claque dos Super Dragões assobiou o minuto de silêncio em homenagem a Bento, que foi guarda-redes do Benfica. Eu repito: no estádio do FC Porto, a claque dos Super Dragões assobiou o minuto de silêncio em homenagem a Bento, que foi guarda-redes do Benfica. Eu repito: no estádio do FC Porto, a claque dos Super Dragões assobiou o minuto de silêncio em homenagem a Bento, que foi guarda-redes do Benfica. Ele há coisas que têm de ser repetidas.
O FC Porto teve um guarda-redes chamado Barrigana. Nunca o vi jogar, mas o meu pai falava-me dele, mãos fortes, cara de homem. O Bento, esse, já era um rapaz do meu tempo. Pela selecção, parando Platini e os outros, numa semifinal europeia, ele esteve quase a fazer-me grande. Falhei por um niquinho, um minuto: o 119º, num jogo prolongado até aos 120 minutos.
Bento até era do meu clube mas mesmo que não fosse era dos meus. Eu sou agradecido, gosto de quem me torna feliz. Ele voou duas vezes
à trave, adiou a alegria francesa e prolongou a minha. Duas vezes nas alturas, ele que era mais baixo que eu! Se tivesse tido a vontade de Manuel Galrinho Bento, podia ter sido eu, naquela tarde de Junho de 1984, no Vélodrome, em Marselha, a voar para as bolas de Platini e Tigana. Não foi Deus ou o ADN que me impediram – nada ou quase nada impede no futebol, só o nosso querer. Está bem, ser Maradona ou Cristiano Ronaldo não é para todos. Mas Bento eu podia ter sido e, naquela tarde, eu quis sê-lo, muito.
Não se pense que identificar-me com o herói lhe tira brilho. Os Pelés e Eusébios têm estatuto de Jeová, a quem até a representação devia ser interdita. Já Bento, tivesse eu aquela bigodaça e as ganas que ela denuncia, Bento, um tipo normal, excepto não querer sê-lo, eu podia ter sido. Por isso futebolistas como Bento são a essência do mais popular dos desportos, dão-nos a ilusão de termos passado uma tangente à glória.
Um dia, li uma crónica em que António Lobo Antunes falava de Barrigana. Pousei a crónica, lembrei-me do meu pai. No camião Bedford, onde me lembro sempre dele, rompendo picadas no Norte de Angola, o meu pai conta-me que veio à Europa para casar, mandou fazer um fato branco e encontrou o seu clube em crise. Em plena II Guerra Mundial, o FC Porto perdera Andrasik, o húngaro que desapareceu talvez por ser antinazi. O meu pai foi ao velho campo da Constituição ver o substituto, Frederico Barrigana. Mãos fortes, cara de homem e uma tristeza fatal: viveu na mesma época de um deus, Azevedo. Continuou com a cara de homem e foi a tranquilidade dos portistas por mais de uma década. Entretanto, o Bedford atravessava a minha infância e eu guardava um nome de alguém que nunca vi. Barrigana.
No outro dia eu devia ter estado no meio da claque dos Super Dragões que insultava o nome de Bento. Evidentemente, eu não estaria a assobiar, estaria com um sorriso nos lábios. Talvez alguém me perguntasse porque sorria. E eu diria: “Estou a lembrar-me de Barrigana, um tipo com cara de homem”. E o superdragão perguntaria, confuso”: Qu’é que o Barrigana é práqui chamado?”. E eu diria: “Os tipos com cara de homem fazem-me lembrar os tipos com bigodaça”. Mas, isso, um tipo das claques não podia entender, é uma coisa só para quem teve pai.

Ferreira Fernandes
Jornalista

in revista “Sábado”, de 8 de Março de 2007

Manuel Queiroz

Manuel Queiroz é um dos mais reputados jornalistas e comentadores portugueses. Sub-director do "Correio da Manhã", comentador desportivo da TVI, ex-editor de Desporto do "PÚBLICO", é um assumido adepto portista, que aborda a actualidade do seu clube com paixão e fervor clubístico, o que só lhe fica bem.
Como jornalista e comentador, Manuel Queiroz consegue, como poucos, despir a camisola, e vem ao de cima o seu profissionalismo feito de rigor, competência e objectividade.
Neste espaço de benfiquismo, que eu quero que seja o mais faccioso, o mais saudavelmente fanático, em defesa do Sport Lisboa e Benfica, não resisto a transcrever um email que recebi de Manuel Queiroz, pela qualidade do seu conteúdo,em resposta à postagem "Jose´s blue & white army".

Meu Caro,
O Mourinho é responsável sempre pela chuva e o bom tempo.
Estou ligeiramente em desacordo com isso. Acho que o golo do Helton é que mudou as coisas, não foi o Mourinho. Foi o episódio, próprio do jogo, não foi nenhuma decisão do treinador. Porque foi o golo que deu mais calma ao Chelsea, e tempo para esperar pelo segundo – o Mourinho já andava à rasca no banco.
Esta é a pior equipa do Mourinho de sempre, mas talvez aquela que vai ganhar a Champions, porque hoje a Champions é uma coisa à parte, em que conta a experiência, o não falhar golos, o não meter golos na própria baliza, porque tudo se joga em muito pouco. Tirando o Barcelona – e à sua maneira o FC Porto, é justo dizê-lo, e poucas mais equipas – na Champions joga-se muito no equilíbrio e ganha-se pelos maiores desequilibradores em dia bom. Não por futebol, mas por bem defender. Que jogadas de golo teve o Chelsea? Uma e meia? Em 90 minutos é muito pouco, convenhamos, para os jogadores que tem o Chelsea.
É só um desabafo.

Abraço

MQ

Vocês sabem do que é que eu estou a falar

Como tinhamos prometido na postagem colocada sob o título "Porque será?", que pode ler mais abaixo, aqui está a resposta correcta sobre o significado da frase enigmática proferida por Paulo Bento no final do União de Leiria - Sporting, jogo no qual Liedson foi expulso: é a opção 2.
2 - Paulo Bento já anda há muito tempo no futebol para ser anjinho.

Ora, Paulo Bento demonstrou no "flash interview" que não é anjinho e, por isso, mais não fez do que elucidar a opinião pública que nas vésperas dos jogos de Sporting e Benfica nas Antas ou, agora, no Dragão, alguma coisa de surpreendente costuma acontecer.
A Comissão Disciplinar da Liga comprovou-o isso mesmo ao penalizar Liedson com 2 jogos de suspensão, impedindo-o de jogar contra o FC do Porto. Como dizia o ex-jogador e ex-treinador do FC do Porto, Octávio Machado, "vocês sabem do que é que eu estou a falar"...

quarta-feira, 7 de março de 2007

APITO, APITOU

O dia “não” dos arguidos do Apito Dourado, que tem no autarca de Gondomar o elemento mais mediático, também é o do aplauso ao juiz Pedro Miguel Vieira, que ontem mandou o processo para julgamento depois de recusar os “incidentes” da defesa. O país habituou-se a ver as suspeitas do mundo do futebol apodrecerem nas gavetas. Será que esse tempo acabou? in "PÚBLICO" de 7 de Março de 2007

Jose´s "Bleu & White Army"

José Mourinho eliminou ontem o FC do Porto. Leram bem, sim, José Mourinho. Foi ele que, depois de uma primeira parte medíocre do Chelsea, resolveu colocar em prática os seus “mind games”.
Ainda a primeira parte não tinha terminado e já Mourinho recolhia aos balneários para se concentrar naquilo que ia dizer aos jogadores. O que ouviram os “bleus” naqueles 10 minutos de intervalo ficou no segredo dos deuses. A verdade é que o Chelsea que veio para a segunda parte não foi a mesma equipa.
A “Bleu & White Army”, como chamam à equipa de Stamford Bridge, despiu o fato de gala e vestiu o fato de macaco. E aí, foi um ver se te avias. A artilharia do Chelsea, sem Joe Cole e sem John Terry, fez o qb para passar aos quartos de final da “Champions”. A fotografia que publicamos junto a esta postagem, José Mourinho com o cachecol da Selecção Nacional à volta do pescoço, não é inocente.
No relvado lá estavam Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira. No banco de suplentes, para além do “Special One”, podiam ver-se Hilário, Silvino Baltemar Brito, André Vilas-Boas, Rui Faria. Digam lá se não é Portugal no seu melhor. E agora, até Atenas…

domingo, 4 de março de 2007

Porque será?

Paulo Bento, no final do U. Leiria – Sporting deixou uma grave suspeição no ar. Disse o treinador do Sporting que já anda há muito tempo no futebol para não estranhar a expulsão, com vermelho directo, de Liedson, pelo árbitro Paulo Costa.
Ora, sabendo nós que as expulsões com vermelho directo têm sido sancionadas pelo Conselho de Disciplina da Liga com dois jogos de suspensão, e sabendo nós que dentro de duas jornadas o Sporting vai jogar ao Dragão, o que quis concretamente dizer Paulo Bento?
Deixamos aqui algumas hipóteses:
1 – Paulo Bento já anda há muito tempo no futebol para perceber as fitas do Liedson;
2 – Paulo Bento já anda há muito tempo no futebol para ser anjinho;
3 – Paulo Bento já anda há muito tempo no futebol para conhecer o árbitro Paulo Costa;
4 – Paulo Bento já anda há muito tempo no futebol para saber que antes dos jogos nas Antas ou no Dragão, alguma coisa de surpreendente costuma acontecer.

A resposta correcta será publicada na quinta-feira.

Os suspeitos do costume

O que se passou ontem à noite no estádio dos portistas não foi um simples episódio infeliz e localizado. Recapitulemos: o jogo FC Porto – Sporting de Braga foi antecedido por um minuto de silêncio em memória de Manuel Bento, histórico guarda-redes do Benfica e da Selecção Nacional, falecido dois dias antes com 58 anos de idade. Aquele momento, que se pretendia de recolhimento ou de última homenagem ao jogador e ao atleta ímpar, ao homem exemplar, foi boicotado por assobios e cânticos insultuosos ao Sport Lisboa e Benfica vindos de um dos topos do estádio onde se situa a claque “superdragões”.
Os radialistas e os comentadores televisivos apressaram-se a “branquear” a situação, dizendo que, apesar de lamentável, mais de 90% do público presente no estádio tinha homenageado Manuel Bento e censurado com assobios a atitude dos “superdragões”. Esta tese, característica de uma postura refém do politicamente correcto, é não só uma falácia como procura tapar o sol com a peneira, não ir à raiz do problema, para o extirpar, e, pior, varre o lixo para debaixo do tapete.
Se a esmagadora maioria dos espectadores do Porto – Braga se comportaram com decência, não podemos escamotear que durante anos e anos foram cúmplices e complacentes com todas as malfeitorias protagonizadas por aquelas “coisas” que se costumam identificar como “superdragões”.
Este grupo organizado de delinquentes, autênticos criminosos de delito comum, exemplos vivos de uma filosofia de clube, implantada desde que Jorge Nuno Pinto da Costa chegou ao poder, em 1982, e que consagrou raridades “infrahumanas” como o “Macaco” e o “Guarda Abel” e tiradas célebres como “Só quero ver Lisboa a arder” ou “Antes corno que vermelho” (Guarda Abel), não são os únicos culpados. Atrevo-me a dizer que são os menos culpados.
Quando Pinto da Costa chegou ao poder nas Antas, através de um golpe de estado que ia acabando com o seu futebol, fomentando a divisão interna durante o período mais negro da história do clube, a que chamaram de “Verão Quente”, o FC Porto não era o clube simpático que a propaganda “pinto-costista” gosta de veicular. Era um clube que ganhava e perdia campeonatos, mas tinha à sua frente um homem íntegro, Américo de Sá.
Com Pinto da Costa, a estratégia passou a ser a do terror, por um lado, e a das alianças selectivas com os rivais de Lisboa, por outro. No primeiro caso, lembro a célebre manifestação frente ao Governo Civil do Porto, as assembleias gerais incendiárias, geralmente em vésperas de jogos decisivos com o Benfica nas Antas, a criação de uma força de segurança privada, encabeçada pelo Guarda Abel, um agente da PSP do Porto no activo, as atoardas contra Lisboa, o boato lançado antes do decisivo FC Porto – Benfica de 1991 (de que o árbitro Carlos Valente viajava com a equipa do Benfica no mesmo comboio), o balneário encarnado encharcado de lixívia, Jorge de Brito a ter de sair do estádio escondido numa ambulância, etc., etc, etc. No segundo caso, as alianças com Benfica para enfraquecer o Sporting e vice-versa. No caso do Benfica, denuncio aqui e agora Fernando Martins e Manuel Damásio como dois presidentes que se deixaram seduzir pelo canto de sereia de Pinto da Costa, com prejuízos para o Glorioso.
A evolução desta escalada, com episódios cada vez mais rocambolescos e muitos deles atentatórios de um Estado de Direito (o que tem vindo a público, no caso Apito Dourado, é uma ínfima parcela do que foi engendrado nos bastidores do futebol português nestes últimos 20 anos, com prejuízo do próprio futebol e vergonha das suas instituições e do país), tem como ponto incontornável a criação dos superdragões. Não é tempo nem momento para continuar a escrever sobre o rol de tropelias, para usar um termo brando, que sob a alçada de uma instituição com um passado digno foram cometidas.
No caso de ontem no estádio do Dragão o dedo não pode ser só apontado aos “animais” que ocupam aquele topo. O dedo deve ser apontado, principalmente, a quem ocupa os lugares principais na tribuna presidencial, e não me refiro só a Jorge Nuno Pinto da Costa. A cobertura política que aquela claque organizada tem da parte da Direcção do FC Porto, com particular realce para Pinto da Costa e Reinaldo Teles, é algo que já nem na América Latina era possível.
É por isso que aqueles milhares e milhares de sócios e simpatizantes portistas que sentiram vergonha do comportamento dos superdragões e os assobiaram demoradamente devem tê-lo feito com um enorme peso da consciência. Foram eles, e só eles, que apoiaram a criação do “monstro”, com as sucessivas reeleições de Pinto da Costa, com o silêncio cúmplice, complacente, e muitas vezes aquiescente, com que viram e ouviram, durante 20 anos, o seu presidente tornar-se e tornar o clube naquilo que é e naquilo que os superdragões tão bem representam.
Agora, se calhar já é tarde para voltar a trás, devem ter pensado todos os portistas ao saírem cabisbaixos do Dragão na noite de sábado. Se calhar é, ou se calhar alguém lhes pode dar uma última oportunidade. Basta que a Justiça faça o seu dever…

sexta-feira, 2 de março de 2007

O Melhor, disse ele


O Bento era o melhor. O Bento tinha golpe de rins. O Bento fazia o milagre. O Bento gritava. O Bento mandava. O Bento atrapalhava. O Bento não se ficava. O Bento era vermelho. O Bento tinha um bigodaço. O Bento usava uma enorme trunfa. O Bento mergulhava. O Bento não temia. O Bento assustava. O Bento comandava. O Bento inventava. O Bento desesperava. O Bento era louco. O Bento voava mas não era pássaro. Por isso, o Bento defendia. E este meu coração, sportinguista, sangrava...

Editorial de Pedro Tadeu, Director do "24horas"

Eterno Número 1


Bento, Artur, Humberto, Messias (ou Malta da Silva) e Pietra (ou Alberto) ; Shéu, Toni, Vítor Martins e Chalana ; Néné e Vítor Baptista (ou Jordão). Jovem, adolescente, eram estes os meus ídolos, e mais alguns poucos. Eram e são. Sinto saudades de os ver evoluir num qualquer relvado da província ou na Catedral da Luz. Naqueles tempos do futebol ao domingo à tarde, bancadas cheias até à vedação e nós de pé, sem cadeira nem lugar marcado para nos sentarmos – era futebol, não era cinema -, sem apito dourado. Nem sequer sabíamos que havia classificações de árbitros e senhores que classificavam os árbitros, chamados observadores. Naquele tempo não havia quarto árbitro, havia, isso sim, o peão. Como eu tenho saudades do peão…
Dizia eu que tenho saudades de ver jogar aqueles nomes que escrevi no início deste texto. Fazem-me falta. O Artur, o Ruço; Humberto, o “grande capitão”; o esguio “colored” (como se dizia na altura) Messias (que é feito de ti?, e de ti, Malta da Silva?, e de ti, Alberto, o dos dois grandes golos pela Selecção à Aústria, no Prater, e à Escócia, na Luz, mesmo nas barbas de Rod Stewart; o ex-Belém Pietra ; Shéu, o pezinhos de lã ; Toni, “a força da Natureza” ; Vítor Martins, “o garoupa” e Chalana, “o pequeno genial” ; Néné, o dos golos “sem sujar os calções” e Vítor Baptista, “o Maior”. Sinto falta de nos ver entrar no relvado, de camisola vermelha, vermelha mesmo e não preta ou alaranjada ou acastanhada ou beje ou amarelada (e fico-me por aqui).
Quando vos encontro a todos juntos por alturas de um dia especial, como foi o de ontem da Gala comemorativa dos 103 anos do Glorioso, verifico que vocês não envelheceram. Vocês nunca vão envelhecer.
E, no entanto, sei que nunca mais vai ser possível reunir-vos, de 1 a 11, Um a Onze, como naquela altura, sem 99 ou 35 ou 44. Falta-me o 1 e o 9. Faltam-nos a todos. O 9, o Vítor Baptista, já se foi há alguns anos. Parece que ainda o estou a ver a receber a bola no peito, lançada por Shéu, numa linda tarde de sol de um Domingo na Luz, contra o Sporting. Rodopiou sobre o tronco, como só ele sabia rodopiar, e disparou uma bomba que só parou no fundo das redes verdes-brancas. 1-0. Toni correu eufórico para os abraços, mais Humberto, mais Shéu. As bancadas em ebulição ficaram, de repente atónitas, Vítor Baptista não festejava, rastejava no relvado à procura de um brinco que se soltou. Morreu como viveu, no fio da navalha.
E hoje faltaste-me tu, Bento. Meu eterno Nº 1. Tu que, como Vítor Baptista, também tinhas tanto de génio como de louco. Tu que um dia, num daqueles momentos de loucura, agrediste o Manuel Fernandes, num Sporting-Benfica, és expulso, é penalty, é golo dos leões. Estávamos a ganhar 1-0. Perdemos 3-1, e o campeonato. Tu, meu querido Bento, que tantos e tantos campeonatos nos destes, tantos e tantos penalties defendeste, como aquele nas Antas, estava 0-0 e 0-0 ficou porque foste buscar o tiro de Gomes e deste-nos mais um título. Eu, que estava lá, exultei e agradeço-te a ti aquela imensa alegria.
Tu que não sentias a dor. Vi-te, em Famalicão, no final da década de 70, a sair aos pés de um avançado e, momentos depois, a sair de campo de maca. No balneário coseram-te a cabeça, a frio, com 30 pontos.
Vi-te a segurar um empate inesquecível em Glasgow, pela Selecção Nacional contra a Escócia, naquela que, para mim, terá sido a mais espantosa exibição a que assisti de um guarda-redes.
Vi-te noutra tarde memorável, em Marselha, no Europeu de 84, a fazer defesas espantosas aos remates de Platini, Tigana, Rocheteau, Giresse. Abandonaste o futebol como um anti-herói, com discrição. Nunca te armaste em comentador, nem nunca te puseste em bicos de pés, quando, discretamente como só os grandes Homens sabem ser, abraçaste esporadicamente a carreira de treinador.
E agora Manuel Bento? Como foste capaz de partir, assim, de repente. E agora, quando eu tiver de convocar os meus heróis? De 1 a 11. Quem é que ponho com o 1 e o 9? Eternamente, Manuel Bento e Vítor Baptista.

quinta-feira, 1 de março de 2007

O "Sistema" ainda mexe


O “sistema” está moribundo, a estrebuchar, a dar as últimas. Mas ainda gosta de dar provas de vida. Como diz a voz popular, são “as melhoras da morte”. Na semana transacta, no jogo Estrela da Amadora – Beira-Mar, o árbitro Paulo Costa explusou o jogador beira-marense Diakité, após um lance perto da área aveirense. Os jornais assinalaram o exagero da expulsão mas o certo é que ela aconteceu e o jogador não defrontou o FC Porto na jornada seguinte. Na segunda-feira, em dois campos, o "sistema" fez de novo a sua aparição. Na Luz, o árbitro Paulo Paraty decidiu amarelar Luisão, impedindo-o de jogar sábado na Vila das Aves contra o Desportivo das Aves e não contente com isso, ainda mostrou o amarelo a Katsouranis, o quarto, colocando-o sobre pressão quando se aproxima o jogo com o FC Porto. Até lá, "Katso" vai ter que usar de contenção para evitar o 5º amarelo, que dará um jogo de exclusão. Na mesma noite, Wender era expulso em Braga, no jogo Sporting de Braga-Estrela da Amadora, uma expulsão rídicula porque consubstanciada num segundo amarelo quando o jogador saía do relvado para ser substituído.
É bom não andarmos distraídos. O "sistema" está moribundo, mas ainda mexe, nem que seja articulado.
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